Histórias

A banca de Jogo de Búzios de Getúlio Bento Vieira


Esta tinha de um metro e vinte de diâmetro, com suas laterais salientes de quinze a vinte centímetros de altura. O Búzio é uma conha de molusco côncava-convexa, na cor branca e muito resistente. Sua cavidade côncava é preenchida artificialmente com um material preto e duro. Quatro Búzios assim preparados, mais a banca, formam um "aparelho" do jogo. Era uma grande atração nas festas religiosas daquele tempo. Hoje em dia, é um jogo completamente desconhecido, pois foi proibido por tratar-se de jogo de azar, tendo causado a ruína econômica de muita gente.Vamos à descrição do jogo: ao redor da banca, reuniam-se diversos jogadores, em número de quatro, seis e até oito. cada banca tinha uma determinada "parada", pelo que se entendia o valor de cada jogada, por exemplo, uma de mil réis e, assim, sucessivamente, até cincoenta ou cem mil réis. Se o jogador tivesse muito dinheiro, enfrentaria a banca de "parada" mais alta; caso contrário, procuraria a de "parada" mais baixa. Um dos contendores, colocando o valor da "parada" no centro da banca, juntava os Búzios nas mãos, sacudi-os bem e gritava:_ É sorte! É sorte! Quem joga?Quem se habilitava, casava o seu dinheiro, colocando o mesmo valor sobre a mesa. O desafiante com os búzios nas mãos os jogava, com força, contra as laterais da banca e eles rolavam e rodopiavam até parar. Se dois "olho" ou quatro(parte preta voltada para cima) era sorte, ganhava. se um "olho" ou três, era azar, perdia. Era muito divertido apreciar aquele vozerio constante vindo de dez, doze ou até quinze barracas, cheias de jogadores a gritar, dizendo gracejos, palavrões e desafios, muitos deles espirituosos (José caixeirinho, p.45-46).

Casamento de Antônio Gabriel Vieira em 25/10/1910, filho do Capitão Joaquim Bento Vieira com Antônia Gabriela de Faria, de Cachoeira de Minas, MG

.Lucinda Tito Ribeiro da Motta, casada com o Major Crescêncio Lopes Ribeiro em 01/03/1866 em Espírito Santo do Pinhal-SP, filho de Antônio José Lopes Ribeiro e Vicência Maria Ribeiro. Tiveram os seguintes filhos:

Casamento de Irene Tito Ribeiro da Motta com Antônio Gabriel Vieira
9.1.1 Irene Tito Ribeiro Motta casada com Antônio Gabriel Vieira em 25/10/1910, filho do Capitão Joaquim Bento Vieira e Antônia Gabriela de Faria, de Cachoeira de Minas. Pais de:
9.1.1.1 José Tito Vieira
9.1.1.2 Antônio Gabriel Vieira Júnior, casado com Maria Aparecida em 01/01/1944, filha de Lino Pereira da Silva.


Baronesa  e Barão de Camanducaia em foto de meados de 1885.


Joaquim da Motta Paes (Barão de Camanducaia). Nascido em Pouso Alto em 02/12/1821 e faleceu  em Piranguinho, em 05/03/1889. Casou-se duas vezes, a primeira com sua prima Maria Ribeiro de Oliveira, nascida em Conceição dos Ouros-MG em 1830, filha de José Corrêa de Oliveira e Maria Ribeiro. Desse casamento nasceram 10 filhos. Casou-se pela segunda vez em 02/01/1869 com Bernardina Maria Pereira dos Anjos, filha de João Pereira da Silva e Maria José Carolina na Costa. Sem geração.



A Casa de Irene

 O texto abaixo, escrito por Paulo Araújo de Almeida, foi compartilhado comigo pelo amigo Carlos Eduardo de Araújo Almeida, e tive a autorização do autor para publicar. Espero que gostem e que viagem na história como eu viajei. 
       
Casas da D. Irene e D. Cota, em frente ao jardim, em 10/02/1952.
        Fiquei muito contente quando um rapaz de Conceição dos Ouros, estudante de história, veio a minha casa para conversar sobre a “Prima Irene”. A “Prima”como nós a chamávamos na família dos Araújosera uma velha senhora, Irene Tito Vieira, e a conheci desde que passei a frequentar o rancho do meu avô materno Nézinho no final dos anos 1960. Descendente do fundador Major Felix da Mota Paes, a Prima Irene teve uma tia, Teresa, que foi casada com meu bisavô, Manoel José Araújo, o vovô Maneco. Ouros era lugar de passagem do vovô Maneco, que saía a cavalo de Espírito Santo do Pinhal onde tinha sua fazenda, rumo a Taubaté, Mogi das Cruzes e Santos. O Nézinho, filho mais novo de Maneco, ainda menino, acompanhava seu pai nessas viagens, junto com seusonzeirmãos e então passar pelo casarão de Felícia, mãe de Irene, era além de necessidade de descanso devido à longa jornada, obrigação e respeitoso obséquio. No seu casamento com a tia de Irene vovô Maneco não teve filhos, mas todos os filhos de seu casamento anterior foram convocados e permanecerambem vestidos e em respeitoso silêncio enquanto a madrasta agonizava numa alcova do casarão ao som de música clássica que ela mesma pedira. A cama em que ela faleceu, uma marquesa de pau com a “modernidade” de molas de aço, decora hoje a saleta superior do nosso quarto de dormir, ao lado do vitral representando cena do imaginário – surrealismo caboclo de Araújo caçador. Uma fotografia antiga atesta uma senhora morta na marquesa, esticada e o corpo alumiado por candelabros altos de chão.  Era costume fotografar os mortos no século XIX. Nesse período, a cultura europeia e clássica estava presente nas elites brasileiras e também na família Tito Vieira. José Tito me presenteou, em certa ocasião, com uma coleção de discos de vinil, compactos simples, intitulada “música dos países”, eram dezenas de disquinhos mostrando extratos da cultura sonora dos principais países do globo, o que atesta o interesse e formação universal da família.
     Sempre prezei muito a “Prima”, a que era plenamente correspondido. Se ela ficava sabendo que eu estava nos Ouros e ainda não fora visita-la, logo mandava missiva indagando: − Por que o Paulinho ainda não veio aqui? O casarão e seus moradores efetivos, a Prima Irene, seu filho José Tito e a criada Iracema foram muito importantes para este adolescente que vinha amiúde da capital paulista passar férias escolares e também finais de semana em Conceição dos Ouros. Estudante de arquitetura em meados dos anos 1970 fiz trabalho de pesquisa sobre o casarão de Dona Irene e costumava passar boas horas em conversas na sua companhia. Algumas vezes dormi no casarão como hóspede, no velho colchão de palha de milho que Iracema afofava com um varejão de bambu. Forrado apenas com algodão cru, o colchão provocava alguma coceira, mas era legal afundar ali o corpo e ver por somente por uma nesga de fresta que sobrava, o forro alto de tábuas do casarão. Caldo de feijão com couve ou salsinha e macarrão, doce de casca de laranja do próprio terreiro, bananas, mandioca, de tudo um pouco se produzia no pátio dos porões. O café era cultivado e colhido no próprio terreiro da casa, depois posto a secar estendido na própria sala dos antigos “móveis de palhinha”, espaçodo casarão que já fora também escola, casa paroquial, cartório e várias outras funções públicas. Depois de torrado na bola oca de ferro no grande fogão de lenha da cozinha, o café era socado no pilão, e mandado triturar em pó na padaria do seu “Varino” que já possuía um moedor elétrico. Bebíamos o café da Prima meio à contra gosto, por educação, pois que ele era três “efes” com brincávamos entre nós, frio, fraco e fedido, além de excessivamente doce.
         A Prima tinha um velho filtro de barro na sala sobre uma toalhinha branca de rendas da Ilha da Madeira. Os meninos Araújos, Paulo, Rogério, Sérgio e Augusto, que frequentavam sua casa estavam sempre vestidos de calças Lee, casacos marrons de couro e corte de cabelos à máquina zero, ouviam rock e mascavam chicletes Adams. D. Irene pediu aos prezados priminhos que lhe guardassem os chicletes já mascados e com eles aproveitou para tapar o vazamento do velho filtro d’água, o que proporcionou ao salutar líquido um leve gosto de tutu-fruti, gerando gargalhadas gerais entre todos, inclusive aos moradores do casarão. O sorriso de Iracema, “a virgem dos lábios de mel” como acrescentavam os jovens ao seu primeiro nome, mostrava forte batom vermelho e um ou dois dentes de ouro, apenas, os que lhe sobravam na boca de cacos pretos. Mas isso não era nada se comparado às pernas da “virgem” que eram puras ulcerações. E a “danada” expunha aquele “belo” sorriso toda vez que algum pretendente – o Mudinho era o principal – lhe pedia a mão em casamento à madrinha. Irene também se divertia com a situação, mas nunca assentiu ao casório, pois que não podia prescindir de tão denodada criada para os serviços gerais da casa.
         − Iracema, vai caçar serviço! Bramia a velha patroa e ela vagarosamente, arrastando uma perna, sorrindo logicamente, cruzava o caminho aberto entre os grãos de café que secavam no chão da grande sala, até abrir à chave a grande porta de entrada do casarão toda vez que uma visita tocava a campainha. Todos eram recebidos por Irene da mesma forma, amável e educada,fosse personalidade reconhecida ou um simples pedinte. Por vezes a campainha estava quebrada, ou faltava energia na cidade, o que era comum, e desde a praça corríamos atravessando a rua e, apoiando um pé na linha de declive da fachada, num pulo homérico, era possível enviar um grito através do janelão envidraçado, se aberto, anunciando a presença de visita: − Priiiima!!! E corríamos para a porta para ouvir os arrastados passos de Iracema ou seria dessa vez o toque-toque rápido e nervoso do José Tito, quando vinha ele mesmo abrir a porta. Magérrimo, olhos agitados entre o nariz avantajado, camisa para dentro da calça com cinta e sapatos pretos, mesuras fidalgas, cumprimentos que demonstravam a mais fina educação que o filho único de Irene recebera dentro da tradição dos Barões mineiros do café do século XIX.
          No forro do casarão pó de broca, veneno, limpeza que se faia necessária à miúde a fim de não dar guarita a gambás e outros animais mamíferos inclusive voadores ou de penas, que gostariam de se aninhar tanto no forro como sob os beirais de telhas coloniais de cocha. Uma escada de tábuas de lei primorosamente gastas, descia aos porões constituídos a guisa de alicerces com paredes de pedras naturais empilhadas. Lá, entre velhas correntes de agrilhoar escravos, sapos e medos fantásticos que povoavam o imaginário, Irene mandava guardar tudo aquilo que sendo inútil na ocasião, um dia poderia vir a servir para alguma necessidade. Foram num canto dos porões que os meninos primos Araújos encontraram as “chapas” de charretes, carroças, carroções, carros de bois com as quais a Prefeitura Municipal lacrava os veículos que transitavam pelas ruas e estradas ainda de terra. Além dos porões, a partir do grande tanque de cimento para lavar roupas, o quintal descia em frutas, ervas e capins não mais até o rio Sapucaí-mirim rumo a sua antiga ponte de madeira, pois novos arruamentos haviam sido traçados restringindo esse quintal, mesmo assim ainda enorme, aos limites de uma quadra. Cercas de arame farpado com bambus desciam pelos dois lados nos limites do terreno, e na frente junto à fachada um portão de acesso à ruacolocava no mesmo nível o calçamento público e o pátio dos porões. Carroças, charretes e cavalos poderiam assim chegar ao pátio interno para descarregar ou carregar alguma mercadoria. Visitantes vindos das minas ou do litoral poderiam ter suas animálias desarreadas ali.
         Dona Irene, viúva, administrava o casarão com firmeza, recebia e mandava recados. Não é difícil encontrar ainda hoje na cidade quem tenha frequentado a piedosa família, que cercada de santos e latas, tinha a hora da missa do Santo Padre de Aparecida do Norte que ouviam num rádio de madeira ou na televisão em branco e preto, como o único horário em que nenhuma visita poderia ser recebida no lar por mais que tocasse a campainha. Uma fachada de igreja de madeira com um sininho de ferro na torre era enfeite, cenário testemunho da fidelidade religiosa da família. Um crucifixo, um pôster do Santo Papa e a antiga vitrola do Zé Tito em móvel de madeira com os finos pezinhos dos anos 1960, duas camas toscas de pau no modelo bandeirantista, armário e uma dúzia de farrapos.
    
Casa da Irene - década de 1990.
      Assim a mãe octogenária se resguardava com o filho agora em uma única peça da casa, espaço que em si já era enorme, de frente para a praça da matriz, mas sempre longe de estadias demoradas nos parapeitos das janelas frontais. É que à moça de família, e também a uma viúva, não fica bem estar na janela, como se à venda, mas devem sempre resguardar-se na intimidade da morada que constitui sua parte posterior reservada sempre e exclusivamente aos da família. A rua tem muitos passantes, andarilhos das estradas, a praça principalmente aos sábados à noite exibia o footing com moças rodando num sentido por dentro e rapazes no sentido contrário. Uma piscada, um papelzinho de bala que se passa com um nozinho ou dois, e o casal poderia “rodar” junto ou passar aos bancos centrais para o flerte e talvez até pegar na mão um do outro. Beijo já era meio escandaloso e por vezes acabava sendo roubado. Ir atrás da igreja, debaixo da ponte ou mesmo na Mata da Bixiga, isso já constituía pecado mortal a ser severamente repreendido. O importante era que um casal rodando de braços ou mãos dadas, o homem não portasse nunca a mulher pelo lado de fora da praça, pois que isso denotaria que a senhorita “estava à venda” e outro rapaz poderia então flertar com ela, mesmo estando ela acompanhada.
         O certo é que Irene, sempre que ia à missa, fazia o trajeto direto do casarão, cruzando necessariamente a praça rumo à igreja sem muitas paradas para conversas de rua. E devia ir à missa todos os dias, de domingo nem se fale, não aceitando que a de sábado à noite valesse pela de domingo, como autorizara a instituição religiosa. Saia comprida preta, braços cobertos e véu sobre a cabeça, bengala e óculos redondos de osso na ponta do nariz, lá vai Irene acompanhada da criada que segue logo adiante servindo de “abre alas”. Se por algum motivo plausível, depois que já tinha a idade bem avançada,ela não pudesse ir à santa missa em carne e osso, mandava a Iracema para representa-la e pedir ao pároco que mais tarde enviasse o sacristão a sua casa para ministrar-lhe a comunhão. A fidelidade de Irene e de toda a sua família (Zé Tito) à Igreja Católica Romana era total e irrestrita. Ela tinha veneração pelo padre Quadros Aranha de quem reputava a glória de haver sido nos tempos de antigamente, hóspede em sua casa. Dos missais e santinhos que povoavam o casarão não se tem notícias, mas os livros editados em França, o dicionário de Tupiguarani e romances clássicos lisboetas, esses o Zé Tito empilhou em fogueira no pátio, sacrifício da cultura antepassada sugerida pelo padre Braz, ignorante do seu valor como patrimônio histórico e cultural representativo de uma época.
         Quando o primo Dr. Araújo passava estadia na cidade, por vezes ia ela visita-lo e à distinta família no rancho de beira-rio. Antes enviava a Iracema para anunciar sua visita próxima, com carta de boas vindas e alguma produção de seu quintal, doces ou café. Numa dessas visitas à casa do Araújo que fez Irene após seu almoço, e gente do interior costuma almoçar cedo, a filha do Araújo Dona Lysia – a quem a Prima sempre tratou de Lígia nas cartas, ofereceu à Irene um “guisado” que a velha senhora sempre apreciara – os quitutes de gente da cidade grande, como dizia – ao que a Prima respondeu: − Obrigada, agora não quero não, mas trouxe aqui uma latinha..., tirando uma velha lata vazia da bolsa que sempre trazia a tiracolo, e aceito levar um pouco para o José Tito que não veio junto por algum motivo de compromisso ou indisposição.
         Os aniversários do Dr. Araújo constituíam um evento festivo na cidadezinha. 28 de julho! Dia de churrascada e barris de chope. “Criança e cachorro não precisam de convite”, tinham entrada franqueada, como versava o dito popular. Desde o dia anterior, compadres montavam extensa churrasqueira de tijolos de barro – 0.40cm de vão e pelo menos uns 12 metros de comprimento. E cortavam-se também os bambus para afiar os espetos. Garrote era sacrificado e ainda alguns capados deviam grunhir com o punhal de cabo de osso colorido enfiado debaixo do braço. O forno redondo à lenhafumegava, garrafões e mais garrafões de vinho sangue de boi ou aguardenteque os amigos Sebastião Lopes ou Ferreirinha ofereciam ao aniversariante, somados aos vários barris, isso sempre dava em alegria e embriaguez. Dias antes da festança, o Dr. Araújo percorriaa cidade em via sacra, cumprindo as visitas aos amigos e inúmeros compadres para quem levava o convite para sua festa de aniversário e lhes presenteava ele mesmo com o abono das dívidas dos dinheiros que costumava lhes emprestar e que nunca esperava receber o pagamento. Corriam também pela cidade na época, as “listas de adjutório”, um papel ao maço que o pedinte tirava todo amarrotado do bolso e apresentava à bondade do doador. Era uma morada que precisava ser construída ou coberta de telhas, dinheiro para um tratamento na capital, para poder casar, em fim, o próprio doador punha no papel o seu nome a ao lado cifrava o donativo em dinheiro que ofertava àquele cidadão mais pobre. E a mão esquerda sabia muito bem o que a mão direita dava. A coisa funcionava como uma competição entre os ricos, ver quem dava mais e era o mais poderoso e bondoso. Dr. Araújo não fazia por menos, metia a mão no fundo bolso de sua calça de tergal, bolso já preparado de antemão desde que tomava o caminho de Minas, donde sacava um bom bolo de notas que se acomodavam lá no fundo, junto do saco, e folheando as impressões tirava sempre uma quantia capaz de deixar estupefato o pedinte, que saía pelas ruas contando a todo mundo sua graça afortunada. Com isso só aumentava a expectativa de presenças ao churrasco de aniversário. No evento, Dona Irene e seu fiel escudeiro, José Tito, tinham sempre assento de honra reservado junto às mais nobres famílias do município. Na saída, depois de tanto beber e comer, à farta, como se dizia, alguns caíam ali mesmo, em redes ou no gramando.
         Leitões sorriam dourados e pururucas com maçãs na boca em bandejas e a fila do churrasco se fazia em determinados momentos tão longa, que saía da propriedade e se estendia pela rua. Era só ter paciência que se acabava por sair com seu quinhão, nem que fosse só de linguiça, com a qual pensavam que o Dr. Araújo amarrava mesmo seus cachorros.

         Dona Irene se levanta, assim também seu filho Tito. Despede-se de todos e faz sinal para Iracema que zelosamente lhe guardava o fardo e o guarda chuva que por vezes servia de bengala à idosa aparentada. A criada vai ao churrasqueiro e abre o guarda-chuva dentro do qual enfia em roda vários espetos de carne assada. Em seguida ela fecha o guarda-chuva colocando-o no ombro. Cheio também o fardo de provisões para a semana, segue a criada na frente à pé, subindo a Avenida Coronel Domingos Rosa, pois a patroa e o primo são mandados levar de automóvel – perua Kombi – até a praça da matriz onde se localiza o casarão dos Tito Vieira.

Guarda Nacional Brasileira

Após a abdicação de D. Pedro I, o governo imperial foi assumido pela chamada “Regência Trina Permanente”. Uma das primeiras medidas, pois, do novo governo, foi a criação da Guarda Nacional, no dia 18 de Agosto de 1831.
A Guarda Nacional foi criada com base na experiência da França, que havia transferido a segurança do país para os próprios cidadãos, que teriam a função de auxiliar as forças policiais e o Exército a manter a ordem no país. Aqui no Brasil, no entanto, no início do período regencial, o Exército era mal visto por aqueles que consideravam as tropas oficiais uma ameça à ordem política e por aqueles que viam no Exército um instrumento de dominação do poder central, que agora estava nas mãos dos príncipes regentes.
O país vivia um momento de intensa luta política e social, pois enquanto os membros do Partido Restaurador defendiam o retorno de D. Pedro I, as forças liberais apoiavam a Regência Trina e viam no Exército um pilar de sustentação do despotismo de D. Pedro I. Sendo assim, era preciso garantir o fortalecimento do poder central, conciliar os interesses do governo imperial com os dos mandatários locais. Foi neste contexto que a Guarda Nacional foi criada.
Todo brasileiro com renda mínima para ser eleitor era obrigado a se alistar para a Guarda Nacional, com a condição de que fossem homens sadios, na faixa etária de 18 a 60 anos. Os únicos que não estavam incluídos nesta lista eram os membros das autoridades administrativas, judiciárias, policiais, militares e religiosas.
As tropas não eram remuneradas, no entanto tinham as obrigações de: prestar serviço até os 60 anos; providenciar seu uniforme; fazer a manutenção das armas e equipamentos que utilizavam e pagar contribuições em dinheiro.
Durante o período regencial, a Guarda Nacional teve importância na articulação do poder central e local nos meses seguintes à abdicação de D. Pedro I, contribuiu para o fortalecimento da Regência e beneficiou os mandatários locais, já que sua organização era feita por critério de renda, dando a eles poderes e privilégios. Nos anos de 1860 o número de praças era mais de 500 mil.
No final do Século 19, no entanto, a Guarda Nacional foi perdendo o espaço e a importância que tivera. Com a Proclamação da República a chamada “milícia cidadã” perdou ainda mais credibilidade, passando para segundo plano, já que o Exército havia ganhado status.
Em 1892 foi transferida para o Ministério da Justiça e Negócios Exteriores, em 1918 passou a ser subordinada ao Ministério da Guerra, quando foi, de certo modo, absorvida pelo Exército, e apareceu pela última vez no desfile da Independência, no ano de 1922, mesmo ano em que acabou por ser extinta.

Fontes:




O Capitão Joaquim Bento Vieira era fabricante de mel de fumo.



Fumo de rolo, ou ainda fumo de corda, é um tipo de fumo (tabaco) torcido e enrolado, normalmente utilizado para confeccionar cigarros de palha, mas também consumido mascando-se pequenos pedaços. É a matéria prima para produção de cigarros industrializados.

O mel de fumo é o líquido grosso e de cor escura que é extraído (e usado posteriormente), na produção de fumo "de rolo". O líquido, tem a capacidade de embriagar ("embebedar" como é falado no interior), um homem adulto, apenas com exposição prolongada ao cheiro.

Antes de tudo, vamos entender o que vai no fumo: tabaco, mel, glicerina e essência.

O tabaco pode ser produzido em muitas regiões do mundo, há regiões que ele é mais claro, mais escuro, mais forte, menos forte etc. Tabaco é o nome comum dado às plantas do gênero Nicotiana L. (Solanaceae). Então você já sabe de onde vem a nicotina dos fumos, também deve saber que existem tabacos lavados, não lavados e herbal. O mel, como vocês com certeza devem saber vem da abelha, porém o mel usado na produção de fumos para arguile é mais liquefeito (deixa-se mais liquefeito colocando-o em banho-maria ou exposto ao sol). O mel é que dá também o melaço do fumo.

A glicerina (vegetal) é colocada para evitar a queima rápida do tabaco. Porém se colocar em grande quantidade, o fumo ficará muito seco e, se colocar em pouca quantidade, ele queima muito rápido.

A essência é o que dará o sabor ao fumo, não sei ao certo como as empresas de fumos a desenvolvem e como fazem para que ela seja fixada no fumo.

O fumo é algo necessário para se fumar narguile, e com o tempo, é natural que o narguileiro vá aprimorando suas técnicas de armazenamento, e vá por própria experiencia vendo qual as melhores marcas de fumo, e também criando seu próprio gosto. O fumo de narguile é composto por 4 elementos:

1. Glicerina: A glicerina, de origem vegetal, é colocada basicamente para evitar a queima rápida do fumo. Porém, não é quanto maior a quantidade de glicerina, maior a duração. Assim como pouca quantidade de glicerina o fumo não fica bom, pois queima muito rápido, com muita quantidade de glicerina o fumo fica muito seco, o que também leva a queima rápida. Portanto, o fumo deve ter uma quantidade parcial de glicerina, o suficiente para melhor a qualidade da sessão.

2. Tabaco: Algumas pessoas pensam que quanto mais tabaco, mais escuro o fumo. Isso é um mito, já que o tabaco, por ser produzido em diferentes partes do mundo, tem diferentes qualidades. Certos tipos de tabaco são mais escuros, outros mais claros. Alguns são mais fortes, outros menos. Tabaco é o nome popular que se da a Nicotina, portanto, não pense que nos fumos de narguile não contém nicotina. Até existem fumos sem nicotina (como a Soex), porém a grande maioria possui sim nicotina. Dependendo do tipo de tabaco usado no fumo, ele dura mais ou menos, pois cada tipo de tabaco é menos ou mais sensível ao calor.

Tipos de Tabaco: Existem três tipos de tabaco.

Lavados: Os lavados têm menos nicotina (aproximadamente 0,05%). A lavagem ocorre com água fria, mas também pode-se usar vinagre ou um ácido que neutraliza a nicotina. A nicotina é solúvel em água, assim não são necessárias muitas lavagens quando a água está bem limpa.

Não lavados: Os não lavados são praticamente puros e são mais fortes (aproximadamente 0,5%) A quantidade de nicotina nas embalagens é o que indica que o tabaco é lavável. Quando o tabaco não é lavável essa porcentagem é de 0,5%. Os sabores variam de um fumo lavado para um não-lavado, pois lavado não absorve tanto o sabor no fumo. Já o fumo não lavado tem mais sabor mas pode ter leve gosto de tabaco.

Herbal: Os herbal são bem tratados, lavados etc. Não contém nicotina. Do herbal são feitos os fumos sem nicotina, pois são feitos de folhas de chá. Também há diferença de gosto; o cheiro e gosto não são necessariamente parecidos.

3. Mel: O mel é usado na mistura com a essência, que dá melaço ao fumo, mantendo o seu gosto. Normalmente os fumos que tem mais melaço duram mais que os menos melados (menos melaço), mais isso depende também do tabaco usado.

4. Essência: A essência é o que dá gosto ao fumo, quando misturada ao mel forma o melaço.

É comercializado em longas cordas, comumente de cor negra, pela riqueza de nicotina, que pesam em média de 3 a 5kg enroladas em um pau. As variedades cultivadas pertencem ao grupo crioulo, como goiano, azulão, Jorginho, além de muitas outras, com nomes regionais. As folhas, grandes, encorpadas e ricas em viscosidade, são colhidas quando atingem plena maturação e dependuradas em galpões ou ranchos por 15 dias, para a murcha acentuada, sendo então destaladas (separação das nervuras centrais) para formar a corda. O enrolamento exige de quatro a oito folhas, conforme a grossura desejada; o movimento de torsão é dado por duas pessoas. À medida que se forma, a corda é enrolada em um sarilho. 

Durante um mês, o fumo é curado ao sol, passando de um sarilho para outro, enquanto se torce a corda, para escoar a água e as substâncias gomosas que formam o “mel”, e reduzir o diâmetro. Dependendo da grossura final (associação torcida de três ou mais cordas finas), o processo termina entre 60 e 90 dias.

O Pai da Neurocirurgia Brasileira




José Ribeiro Portugal nasceu em Cachoeira de Minas, distrito de Santa Rita de Sapucaí, em 26 de julho de 1901. Filho de Antônio Ribeiro Portugal e Maria do Carmo Ribeiro Portugal, cursou as primeiras letras no ginásio de Santa Rita de Sapucaí, Minas Gerais. Uma vez completos os estudos básicos, transfere-se para a cidade do Rio de Janeiro, então capital do Brasil, e passa a estudar no Colégio Pedro II. Ingressa, em 1922, na Faculdade de Medicina da Universidade do Rio de Janeiro. Seus pendores pela anatomia manifestam-se cedo e, no terceiro ano do curso médico, passa a exercer o cargo de monitor de Anatomia. Completa o curso médico em 1927 e, no ano seguinte, como prêmio à sua proficiência, é nomeado professor Assistente da Cadeira de Anatomia da Faculdade de Medicina da Universidade do Rio de Janeiro. Em 1928, Antônio Austregésilo, catedrático de Clínica Neurológica, instituíra oficialmente a Neurocirurgia no Brasil, como especialidade, cabendo a Alfredo Monteiro a chefia do serviço. Este, por sua vez, convidara Portugal para ajudá-lo. Iniciam, de forma heroica, os primeiros procedimentos cirúrgicos no Serviço de Oftalmologia do professor Abreu Fialho, na Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro. Quando Alfredo Monteiro abandona o encargo, Portugal decide dedicar-se completamente à Neurocirurgia. Em 1929, Portugal, aos 28 anos de idade, submete-se aos exames para Livre Docência de Técnica Operatória e Cirurgia. Naquela época, ele já possuía certa experiência neurocirúrgica e havia desenvolvido a técnica da secção intradural seletiva da raiz do trigêmeo. O tratamento da neuralgia do trigêmeo foi seu alvo de preocupação durante toda a sua atividade como neurocirurgião. A 4 de abril de 1930, Portugal foi nomeado assistente extranumerário da Cadeira de Medicina Operatória da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro pelo professor Benjamin Baptista. Em 1931, Portugal publica o opúsculo Largas Vias de Acesso aos principais Troncos Vasculares, (figura 25) obra clássica da neurocirurgia brasileira. Em 1932, quando tinha apenas 32 anos de idade, assume a chefia do recém-criado Serviço de Neurocirurgia do Hospital da Ordem Terceira do Carmo, com cem leitos. Em 1936, Portugal publica o trabalho fundamental sobre “Diagnóstico e tratamento nas neuralgias da face”. O tratamento cirúrgico da neuralgia do trigêmeo consistia sua área de especial interesse, realizando este procedimento com grande maestria. Em 1938, o próprio Leriche, grande cirurgião francês e fundador da cirurgia da dor, assistiu a uma neurotomia retrogasseriana praticada por Portugal. Em 1938, publica o trabalho Cura cirúrgica de um grande meningioma com sinais de compressão do lobo temporal. Nesta publicação Portugal usa, pela primeira vez, o sobrenome Ribe em substituição a Ribeiro. A explicação para a adoção de Ribe é númerológica e foi relatada pelo seu discípulo Mário Brock (1994): Portugal havia consultado uma vidente e esta lhe havia dito que o número total de letras do nome Ribeiro  não seria propício ao seu sucesso. Ela o aconselhou a mudar para Ribe. E assim ficou.

RIO SOUSA - SEGUNDO A MEMÓRIA PAROQUIAL DE AVELEDA

Passa pellas margens desta freguezia pela parte do Nascente o Rio chamado Souza, tem seu principio nas Lamas da freguezia de Moure que fica entre Cramos e Pombeyro, em distancia desta freguezia, huma grande legoa. Não nasce logo caudelozo, sim se vem augmentando com as fontes e regatos que descem para elle de huma e outra parte, atte chegar a esta freguezia, por onde já corre bastantemente avultado todo o anno, principalmente no tempo de inverno que sempre vay mais crescido. Não hé navegavel e só em alguns poços altos pode andar nelle algum barco ou batel pequeno. Corre com curso manso e quieto, porem no tempo de inverno quando há cheyas grandes, corre arebatado. Corre de Norte para Sul. Cria trutas, vogas, escallos, e alguns barbos. Não tenho que informar, só que em todo o anno se pesca, excepto nos meses proibidos. Hé comum para toda a pessoa que quizer pescar enquanto nesta freguezia que nas outras por onde passa athé se meter no Rio Douro, como ficao distantes desta não pude alcançar notícia certa para aquy dar informaçoes verdadeyras como se requer o que farão os Parochos das mesmas freguezias. Este Rio passa por entre prados cultivados com seus arvoredos ao rredor, como são salgueyros, amieyros, castanheyros, e carvalhos, com suas vides que dão vinho verde. Não tenho que informar porque não consta tenhão as suas aguas virtude alguma particular. Toma este Rio o nome Souza de hum lugar chamado Souza que fica junto a este Rio, perto do sitio onde se mete no rio Douro e sempre este Rio Souza teve o mesmo nome desde a Ponte da veyga que he onde principia a ser Rio, athe se meter no Rio Douro. Morre no Rio Douro no sitio a que chamão Entre ambos os Rios, como dizem algumas pessoas com quem me informey e outras dizem se mete no sitio de Arnellas.

Património Edificado no Rio Sousa

Não tem no circuito desta freguezia, por onde passa, cachoeira alguma, só tem duas, digo tres açudes que fazem reprezar as aguas para moverem os moinhos que há no mesmo Rio, e estes açudes lhe embaraçarao o ser navegavel se fosse capaz de navegação. Tem huma ponte de cantaria feyta com perfeyção e segurança, e foy feyta por ordem de Sua Majestade que Deos guarde, esta ponte tem tres ilhais e tem de largura dez ou doze palmos e está situada entre Vilella, e esta freguezia, ao qual lugar de Vilella pertence a esta mesma freguezia eos moradores do dito lugar passao pela dita ponte para a Igreja ouvir missa e assistir aos Oficios Divinos. Serve de passagem aos passageyros que vem de Villa de Conde, e daquellas partes para a Amarante, e para villa Real. Tem mais no circuito desta freguezia dois pontitos, e por qualquer delles só pode passar huma pessoa ao mesmo tempo por serem estreytos hum de pedra a que chamão as poldras de Barrimao que serve de passagem desta freguezia para a freguezia de São Pedro de Cahide; o outro pontito hé de pao a que chamao a ponte da Darconha e serve de passagem desta freguezia para a freguezia de Alentem.Tem huma caza de moinhos no lugar de Prequiam e consta de seis rodas e huma destas he alveyra que moe trigo e estes moinhos São de Manoel Pinto de Magalhaes da caza grande de Vilella e para estes moinhos vay hua grande levada de agua reprezada em hum dos açudes que há no mesmo Rio. Tem mais duas cazas de moinhos cada hum tem duas rodas que estão no sitio de Barrimao, hum destes moinhos hé de Luiz da Costa Guimaraes e outro de António Rodrigues, ambos desta freguezia e para estes moinhos vay amesma Levada de agua reprezada em açude, digo em segundo açude que tem este Rio no circuito desta freguezia. O terceyro açude repreza a agua para outros moinhos que ficão perto daquelles, onde tãobem há huma azenha ou lagar de azeyte, e São de Luis Pinto da freguezia de Alentem. Não tenho que informar. Uzaó Livremente os moradores desta freguezia da agua deste Rio, onde podem reprezar para limarem e regare seus campos, mas os que mays se aproveytão della saó Luís da Costa Guimaraes do Lugar de Barrimau, e Manoel Pinto de Magalhaes da caza grande do lugar de Vilella porque tem reprezado duas levadas do mesmo Rio para os seuscampos, e não paga pensão alguma. Tem este Rio seis legoas de distancia pouco mais ou menos desde o seu nascimento athe acabar no Rio Douro, e não passa por entre povoações algumas de nome, só por entre alguns moradores da freguezia da Cepeda, segundo a averiguação que pude fazer, assim como dos mais particullares do mesmo Rio, fora do distrito desta freguezia, que os Parochos por onde elle passa, poderão dar informação de sciencia certa.

Bibliografia:
Memória Paroquial de Aveleda 1758, Maio, 22
I. A. N. T. T. Diccionario Geográfico. 1758, Vol. 5. fl. 847 a 8

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